Para nosso herói, Abel - 36 anos, vestindo um terno amarrotado sem gravata - porém, era apenas a pujança da natureza reverberando-lhe o inferno astral, tal qual carunchoso espelho deforme, cujo reflexo apresenta-se agigantado. Sentado displicentemente numa mesa de bar, observa o chover.
Marina, 24 anos, bonita, estilo esportivo, caminha devagar pela chuva, absorvendo a sensação de calmaria que só os amantes de chuva conhecem. Cantarola baixinho, em harmoniosa confluência ao mal(?) tempo.
Ela entra no bar. Dirige-se ao balcão. Um homem gordo, de olhos saltados e perdidos se distrai com a realidade falsa da TV. Pede-lhe água. Ele pega uma garrafa, dá a Marina e volta sua atenção novamente à TV, a única realidade com que parece se importar.
Marina bebe a água devagar. Olha à sua volta. Só agora repara em Abel. É visível que não faz parte da ambiência. Apesar de amarrotado e displicente, possui um ar aristocrático que lhe denuncia ser um forasteiro na roda. Um verdadeiro peixe fora d’água. Ou ainda, um peixe na aguardente.
Marina se diverte com a observação e surpreende-se por alguém de inteligível distinção estar bebendo àquela hora da manhã.
Assim como o gato do provérbio, Marina não resiste à curiosidade e cumprimenta Abel, que, perdido em seus pensamentos, parece não ouvi-la. Toca-lhe de leve o ombro. Este, surpreendido, responde ao belo sorriso de Marina com um sorriso falseado, mal disfarçando o desânimo.
“Posso sentar?” Sem esperar por resposta, Marina puxa a cadeira lascivamente.
Visivelmente sem jeito, Abel a cumprimenta. Conversam. André repara na beleza de Marina e parece não prestar muita atenção no que ela diz. Vê-se claramente através de seus gestos e linguagens corporais que Marina está interessada em André e este, timidamente, está aberto às suas investidas.
Gradativamente a chuva cede espaço a feixes luminosos, predecessores do astro maior, despertado de sua breve hibernação.
Muito tempo passado, nossos heróis estão agora de mãos dadas. Abel, sem conseguir conter o sorriso, paga a conta enquanto Marina se espreguiça gostosamente, olhando para a rua.
Sem que ela perceba, ele tira um papel do bolso, sem mostrar a ninguém. Abre o papel e dá uma olhada. A carta-testamento. Seu adeus ao mundo cruel. Despedida para o suicídio. Rasga a carta e joga no lixo.
Ao saírem do bar, Marina o abraça e ele a beija. Primeiro timidamente. Aos poucos, deixa aflorar toda ternura e essência de sua alma, traduzidos num beijo apaixonado.
Abel respira felicidade. Seu coração bombeia, extasiado, o sangue que lhe flui nas veias. Saía das profundezas direto para o paraíso, sem escalas. Não houve tempo nem para descompressão. Uma hora atrás, não via luz no fim do túnel e eis que agora vislumbra o fim do arco-íris, com pote de ouro e tudo.
Neste momento aparece Jorge, o esposo de Marina. Homem forte, 45 anos, semblante transtornado, saca um revólver e o descarrega furiosamente em cima de André, que cai morto. Junto aos disparos, ouvem-se trovões.
Jorge, gigantesco primata, arrasta Marina pelos cabelos. Esta, petrificada, grita sua dor em silêncio. Os transeuntes se jogam no chão e se abaixam assustados.
Volta a chover sobre o corpo de André estendido na calçada.
Assim como o gato do provérbio, Marina não resiste à curiosidade e cumprimenta Abel, que, perdido em seus pensamentos, parece não ouvi-la. Toca-lhe de leve o ombro. Este, surpreendido, responde ao belo sorriso de Marina com um sorriso falseado, mal disfarçando o desânimo.
“Posso sentar?” Sem esperar por resposta, Marina puxa a cadeira lascivamente.
Visivelmente sem jeito, Abel a cumprimenta. Conversam. André repara na beleza de Marina e parece não prestar muita atenção no que ela diz. Vê-se claramente através de seus gestos e linguagens corporais que Marina está interessada em André e este, timidamente, está aberto às suas investidas.
Gradativamente a chuva cede espaço a feixes luminosos, predecessores do astro maior, despertado de sua breve hibernação.
Muito tempo passado, nossos heróis estão agora de mãos dadas. Abel, sem conseguir conter o sorriso, paga a conta enquanto Marina se espreguiça gostosamente, olhando para a rua.
Sem que ela perceba, ele tira um papel do bolso, sem mostrar a ninguém. Abre o papel e dá uma olhada. A carta-testamento. Seu adeus ao mundo cruel. Despedida para o suicídio. Rasga a carta e joga no lixo.
Ao saírem do bar, Marina o abraça e ele a beija. Primeiro timidamente. Aos poucos, deixa aflorar toda ternura e essência de sua alma, traduzidos num beijo apaixonado.
Abel respira felicidade. Seu coração bombeia, extasiado, o sangue que lhe flui nas veias. Saía das profundezas direto para o paraíso, sem escalas. Não houve tempo nem para descompressão. Uma hora atrás, não via luz no fim do túnel e eis que agora vislumbra o fim do arco-íris, com pote de ouro e tudo.
Neste momento aparece Jorge, o esposo de Marina. Homem forte, 45 anos, semblante transtornado, saca um revólver e o descarrega furiosamente em cima de André, que cai morto. Junto aos disparos, ouvem-se trovões.
Jorge, gigantesco primata, arrasta Marina pelos cabelos. Esta, petrificada, grita sua dor em silêncio. Os transeuntes se jogam no chão e se abaixam assustados.
Volta a chover sobre o corpo de André estendido na calçada.
FIM
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