A mãe sai de casa desesperada, ao ouvir o choro da filha, e a vê na rua, junto do irmão e do cachorro do vizinho, dizendo que foi mordida. Pega a criança, do jeito que está, e a leva correndo para o médico.
Pegam um ônibus superlotado. A criança chora.
Chegam no hospital público, que também está entupido de gente. A criança chora
Lá dentro, a mãe faz um escândalo. Quer passar na frente de todo mundo, pois a criança pode pegar raiva. Um senhor de idade, mal-humorado, reclama e os dois discutem. Todos vêm assistir a confusão e dão palpites, riem, jogam piadas, tomam partido. Alguns a favor da mãe, outros contra. A criança ainda chora.
Finalmente, com o barulho da algazarra, o médico chega. Com o clamor da multidão, acaba por dar prioridade à criança, que ainda chora. Ao ver o braço da menina, ainda no corredor, se surpreende, pois a marca não é de uma mordida de cachorro.
É quando a menina, que não mais chora (ufa!), diz que quem lhe mordeu foi o irmão. Sob as gargalhadas da multidão, a mãe e o senhor de idade, enfurecidos, perguntam à criança porque não esclareceu o caso antes.
Ela, na maior inocência, diz aos dois, com a maior naturalidade: "Calma. Cuidado com a raiva".
Fim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário